Se você recebeu o diagnóstico de sobrepeso ou obesidade, é possível
que tenha ouvido falar em tratamento multidisciplinar – aquele que
envolve uma equipe de profissionais de diferentes áreas, que trabalham
juntos para diagnosticar e tratar os pacientes de forma
individualizada. Mas, por onde começar?¹
Saiba que é mais
simples do que parece. O primeiro passo é procurar um profissional que
possa fazer o diagnóstico da obesidade e, aos poucos, adicionar as
demais especialidades, conforme a sua necessidade.
Para
saber quais são as suas, uma dica é tentar identificar os seus
gatilhos individuais. A obesidade é uma doença multifatorial, ou seja,
ela pode ter várias causas que, muitas vezes, estão combinadas (como
genética, questões hormonais, problemas psicológicos, alterações de
sono, hábitos alimentares e sedentarismo, além de fatores sociais e
ambientais)².
Ou seja, não dá para generalizar. Cada
pessoa terá um fator que contribui em maior ou menor grau para o
excesso de peso e, portanto, precisará seguir um tratamento diferente
e personalizado1. Conheça abaixo alguns hábitos e saiba qual
profissional é o mais indicado para auxiliar em cada situação.
Alimentação³-⁴-⁵-⁶
Você já parou para analisar sua alimentação? Quantos alimentos
ultraprocessados (produtos industrializados que contêm muitos
ingredientes, como açúcar e gordura, além de substâncias químicas em
sua formulação) você costuma consumir por dia? Você acha difícil
conciliar o preparo de alimentos saudáveis na correria da rotina? Fica
na dúvida se determinado alimento favorece ou atrapalha a jornada de
perda de peso? Neste caso, um nutricionista pode ajudar.
O tratamento com nutricionista tem como objetivo promover uma
reeducação alimentar. Isso envolve compreender o papel de cada
nutriente, saber como elaborar um prato saudável e entender por que
certos alimentos devem ser consumidos com moderação, como doces,
fast-food e ultraprocessados (refrigerantes, biscoitos recheados,
macarrão instantâneo, entre outros exemplos).
O
profissional irá levar em consideração as suas preferências
alimentares, aspectos financeiros e estilo de vida, e propor um plano
alimentar individualizado e adequado às suas necessidades
nutricionais. Ele vai analisar não só a composição de nutrientes e
calorias dos alimentos, mas outros fatores, como a capacidade de
promover saciedade ou de virar gordura no organismo, por
exemplo.
No lugar dos alimentos industrializados e
ultraprocessados, devem entrar alimentos in natura ou minimamente
processados, como grãos e cereais integrais, carnes magras (ou seja,
com pouca gordura, como peito de frango, peixe, alcatra e filé
mignon), legumes, frutas e verduras. Pense na regra: “descasque mais e
desembale menos”.
Uma alimentação rica em fibras ajuda a
controlar o excesso de peso, uma vez que elas aumentam a sensação de
saciedade ao demorar mais tempo para serem digeridas.
Exercícios físicos⁷-⁸-⁹-¹⁰
Você faz algum exercício físico? Consegue manter uma rotina ou se
exercita só de vez em quando? Acha difícil encontrar uma atividade que
realmente goste e tenha vontade de continuar praticando? Se é o seu
caso, um profissional de educação física pode colaborar.
Uma pessoa especialista na área de educação física irá desenvolver um
programa personalizado de exercícios com foco em garantir saúde e
qualidade de vida. Quando o programa de exercícios é individualizado,
com base nas atividades que a pessoa mais gosta de praticar, a
probabilidade de desistência diminui muito. O objetivo é criar um
hábito que se mantenha para o resto da vida.
O
sedentarismo contribui para a obesidade, por isso o exercício físico
precisa não somente fazer parte do tratamento, como também virar um
hábito para a vida toda. Realizado regularmente, ajuda a reduzir a
gordura corporal, regula hormônios e o nível de açúcar no sangue e
ainda diminui o risco de desenvolver condições associadas ao excesso
de peso, como hipertensão e diabetes tipo 2.
A OMS
recomenda que se faça, semanalmente, pelo menos 150 minutos de
exercícios de intensidade moderada ou 75 minutos de intensidade
vigorosa, combinando atividades aeróbicas (caminhada, natação,
ciclismo e outros) e de força muscular (musculação e treino funcional,
por exemplo).
Saúde mental¹¹-¹²
Você percebe que ingere mais alimentos quando está ansioso ou
estressado? Sente que utiliza a comida como um meio de aliviar
sentimentos negativos? Um psiquiatra e/ou psicólogo podem auxiliar.
O papel desses profissionais é identificar condições
emocionais negativas e dar suporte no gerenciamento delas. O
tratamento também ajuda a pessoa com obesidade a lidar com as mudanças
de comportamento que serão necessárias para a perda de peso e com as
expectativas que surgem durante esse processo.
Esse
apoio é importante porque a obesidade pode aumentar os riscos de
desenvolver problemas de saúde mental, como compulsão alimentar,
transtornos de humor, ansiedade e depressão. Da mesma forma,
transtornos mentais, como a compulsão alimentar, podem agravar a
obesidade.
Sono¹³-¹⁴
Você costuma sofrer com insônia? Dorme menos de sete horas por
noite? Quando acorda, ainda sente cansaço? Atenção: o seu sono pode
não estar sendo reparador. Neste caso, um médico ou mesmo um psicólogo
podem prestar assistência.
Sono insuficiente (menos de
sete horas por noite) leva a alterações metabólicas e endócrinas,
incluindo intolerância à glicose (quando a insulina não consegue
converter o açúcar em energia) e alteração de hormônios que regulam o
apetite. Por isso, noites maldormidas estão associadas ao sobrepeso e
à obesidade.
Quando dormimos horas insuficientes, o
nosso nível de hormônio do estresse, o cortisol, se desequilibra, o
que pode levar a um aumento no cansaço e no desejo por consumir
açúcar. Dormir pouco tende ainda a desregular os níveis de grelina e
leptina, hormônios que promovem fome e saciedade, respectivamente, nos
levando a ingerir mais alimentos, principalmente se estivermos
cansados ou estressados.
Tratamento multidisciplinar
Após entender quais são os seus gatilhos para o excesso de peso, o
ideal é combinar profissionais de diferentes áreas para aumentar as
chances de sucesso do tratamento1. Por ser uma doença crônica, a
obesidade precisa ser controlada pela vida toda.
O
tratamento é de longo prazo e inclui mudanças de hábitos, como
alimentar-se de forma balanceada e praticar atividade física com
frequência. Pode ainda envolver o uso de medicamentos e, até mesmo, a
cirurgia bariátrica – de acordo com acompanhamento e orientação médica⁶.
Saiba mais:
Referências:
1. Mendes AA, Ieker ASD et al. Multidisciplinary programs for
obesity treatment in Brazil: A systematic review. Rev. Nutr. 2016
Nov-Dec; 29(6):867-884. 2. Lin X, Li H. Obesity: epidemiology,
pathophysiology, and therapeutics. Front Endocrinol. 2021 Sep 6;
12:706978. 3. Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Hospital de
Clínicas. Terapia nutricional para pacientes com obesidade. Disponível
em
https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hc-uftm/documentos/protocolos-assistenciais/terapia_nutricional_obesidade-final.pdf
. Acesso em março de 2024. 4. Bueno JM, Leal FS et al. Educação
alimentar na obesidade: adesão e resultados antropométricos. Rev Nutr.
2011 Jul-Aug; 24(4):575-584. Commented [CL3]: Aqui é a mesma ideia
do“comer/alimentar-se” (ver comentário anterior), confirmem se podemos
seguir desta forma. 5. Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso). Posicionamento sobre o
tratamento nutricional do sobrepeso e da obesidade. Disponível em
https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2022/11/posicionamento_2022-alterado-nov-22-1.pdf
. Acesso em março de 2024. 6. Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso). Diretrizes Brasileiras de
Obesidade 2016. Disponível em
https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/Diretrizes-Download-
Diretrizes-Brasileiras-de-Obesidade-2016.pdf . Acesso em março de
2024. 7. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome
Metabólica (Abeso). Guia prático – exercício físico e obesidade.
Disponível em
https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2021/08/GuiaAtividadeV4-CapaB.pdf.
Acesso em março de 2024. 8. Fonseca-Junior SJ, Sá CGAB et at.
Exercício físico e obesidade mórbida: uma revisão sistemática. Arq
Bras Cir Dig 2013;26(1):67-73. 9. Petridou A, Siopi A et al. Exercise
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(World Health Organization). Physical activity. Disponível em
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/physical-
activity#:~:text=should%20do%20at%20least%20an,least%203%20days%20a%2
0week. Acesso em março de 2024. 11. Lazarevich I, Camacho MEI et al.
Relationship among obesity, depression, and emotional eating in young
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2004;31 (4); 195-198. 13. Noh J. The effect of circadian and sleep
disruptions on obesity risk. J Obes Metab Syndr. 2018 Jun
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BR24OB00097 - Maio/2024 - Material destinado ao público em geral.