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Obesidade e procedimentos estéticos: cirurgias plásticas podem fazer parte do tratamento?

O Brasil ocupa o segundo lugar entre os países que mais realizam cirurgia plástica estética, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética.

Publicado em: 24 de fevereiro

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O Brasil ocupa o segundo lugar entre os países que mais realizam cirurgia plástica estética, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética. Os dados preocupam profissionais de saúde, pois procedimentos e cirurgias estéticas podem ser nocivos e perigosos quando feitos sem os critérios elegíveis adequados. Além disso, cirurgias plásticas estéticas não podem ser confundidas com o tratamento para obesidade. Continue a leitura e saiba os motivos.

Por que cirurgias plásticas estéticas não são indicadas para o tratamento da obesidade?

As cirurgias plásticas estéticas e os procedimentos estéticos menos invasivos têm como principal objetivo modelar o corpo. Isso quer dizer que não são capazes de reverter o ganho de peso ou tratar eventuais problemas de saúde causados pela obesidade, como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, alterações hormonais e fisiológicas, entre outras.

O tratamento para obesidade deve ser feito com uma equipe multidisciplinar, que acompanhe os aspectos clínicos, emocionais, alimentares e de atividade física da pessoa. Ou seja, o tratamento não deve buscar apenas a estética ou a redução temporária do peso, mas também a inclusão e manutenção de um estilo de vida saudável, em que seja possível manter o peso perdido.

Quais os riscos que a pessoa com obesidade sofre ao passar por uma cirurgia estética?

A busca por cirurgias e procedimentos estéticos pode ter diversos motivos. Independentemente deles, muito se fala sobre os potenciais resultados, mas pouco é alertado sobre os riscos que essas intervenções podem apresentar, especialmente para pessoas com obesidade.

Segundo estudo do Hospital John Hopkins, pessoas com obesidade têm quase 12 vezes mais riscos de sofrer uma complicação após uma cirurgia plástica eletiva, quando comparadas a outras pessoas sem obesidade ou sobrepeso. Isso acontece, porque diversos sistemas que compõem o nosso organismo são afetados negativamente pelo excesso de peso, podendo haver riscos maiores do que os habituais durante e após o procedimento cirúrgico, como por exemplo:

  • Sistema respiratório - a pessoa com obesidade sofre compressão mecânica do diafragma, pulmões e cavidade torácica, o que pode reduzir a capacidade respiratória. Em um procedimento estético que seja necessária anestesia, por exemplo, pode não ser garantida a oxigenação ideal.
  • Sistema cardiovascular – pessoas com sobrepeso ou obesidade possuem maiores riscos de desenvolverem algum problema cardiovascular. Alguns procedimentos estéticos, assim como qualquer outro procedimento cirúrgico, especialmente os que envolvem anestesia geral, podem provocar manifestações negativas no coração, como por exemplo, aumento súbito da pressão sanguínea, aumentando o risco à vida da pessoa com obesidade. Há também nesses pacientes, maior risco de trombose nas veias das pernas, após procedimentos cirúrgicos devido ao tempo prolongado de repouso e inatividade, podendo levar a maiores problemas circulatórios.
  • Infecção de ferida operatória – altos índices de massa corporal podem aumentar em até três vezes o risco de infecção. Pacientes com obesidade têm risco não só pela dificuldade de penetração do antibiótico profilático no tecido, mas também pelo excesso de manipulação com retirada de grandes volumes de tecido.

Quais as principais cirurgias estéticas e seus objetivos?

Com o avanço da medicina e procedimentos estéticos, intervenções como a lipoaspiração e a abdominoplastia ganharam muita popularidade. Porém, esses tipos de procedimentos não devem ser confundidos com o tratamento para obesidade. Saiba como eles funcionam:

 

  • Lipoaspiração: Esse tipo de cirurgia foca na remoção de gordura de áreas localizadas, geralmente abdômen, coxas, glúteos e braços. O procedimento tem resultados mais bem sucedidos em pessoas que estão próximas do peso ideal. Segundo o Conselho Federal de Medicina, a lipoaspiração pode retirar, no máximo, 7% do peso corporal e em até 40% da extensão do corpo.
  • Abdominoplastia: A cirurgia é feita para remover o excesso de pele, flacidez e gordura, além de restaurar os músculos enfraquecidos e/ou separados. As principais causas para essa situação são gravidez, grandes perdas de peso, envelhecimento e cirurgias prévias.
  • Body lifting: Modifica a forma e o tônus dos tecidos que sustentam a gordura e a pele. Pode ser focado em partes do corpo como glúteos, costas, virilhas e coxas. Assim como na abdominoplastia, pele e gordura em excesso são removidos para restaurar o contorno corporal.

Qual procedimento estético é indicado para pessoas com obesidade?

É comum que pessoas com obesidade que tiveram grandes perdas de peso lidem com excesso de pele, o que causa desconforto físico e emocional. Quando isso acontece, a cirurgia plástica reparadora (como a abdominoplastia) pode ser feita para retirar o excesso de pele.

Veja os critérios recomendados para a realização da cirurgia plástica reparadora:

    🗸  Estar com o peso estabilizado há, pelo menos, seis meses;

    🗸  Ter apresentado boa aderência ao tratamento da obesidade e perda de peso satisfatória.

O procedimento pode ser realizado por qualquer pessoa, desde que siga os critérios citados, no sistema privado de saúde. O Sistema Único de Saúde também prevê a cirurgia plástica reparadora como parte do tratamento para quem perdeu muito peso e possui excesso de pele, porém há outros requisitos exigidos. São eles:

    🗸  Ter feito cirurgia bariátrica há, no mínimo, um ano;

    🗸  Estar com o peso estabilizado há, pelo menos, seis meses;

    🗸  Apresentar limitações das atividades do dia a dia, como dificuldade de mobilização ou alteração da postura devido ao excesso de pele;

    🗸  Possuir infecções cutâneas de repetição por excesso de pele;

    🗸 Ter prejuízo psicológico devido ao excesso de pele.

Caso a pessoa com obesidade sinta qualquer desconforto causado por excesso de pele durante o tratamento, seja físico ou emocional, é importante que compartilhe com o médico, para que ele possa avaliar qual a forma mais saudável e segura de lidar com o problema.

Referências:
 
 1. Bigarella LG, Ballardin AC, Couto LS et al. The Impact of Obesity on Plastic Surgery Outcomes: A Systematic Review and Meta-analysis. Junho de 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35037936/#:~:text=Obese participants were 1.62 times,2.32%3B P < 0.00001). Acesso em 18/11/2022. 2. Gupta V, Winocour J, Rodriguez-Feo C. Safety of Aesthetic Surgery in the Overweight Patient: Analysis of 127,961 Patients. Junho de 2016. Disponível em:   https://academic.oup.com/asj/article/36/6/718/2664472. Acesso em 18/11/2022. 3. Johns Hopkins Medicine. Surgical Complications Twelve Times More Likely in Obese Patients. Junho de 2011. Disponível em: https://www.hopkinsmedicine.org/news/media/releases/surgical_complications_twelve_times_more_likely_in_obese_patients. Acesso em 18/11/2022. 4. Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética. Pesquisa global mais recente da ISAPS informa aumento contínuo de cirurgias estéticas em todo o mundo. 2019. Disponível em: https://www.isaps.org/media/51xpon3m/isaps-global-survey-2019-press-release-portuguese.pdf. Acesso em 17/02/2023. 5. Data SUS. Protocolo Clínico Cirurgia Bariátrica. Disponível em: http://cnrac.datasus.gov.br/cnrac/pdf/ProtocoloClinicoCirurgiaBariatrica.pdf. Acesso em: 18/11/2022. 6. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. Mapa da Obesidade. 2019. Disponível em: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/. Acesso em 18/11/2022. 7. Mafort TT, Rufino R, Costa CH et al. Obesity: systemic and pulmonary complications, biochemical abnormalities, and impairment of lung function. Julho de 2016. Disponível em:  https://mrmjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40248-016-0066-z#:~:text=Obesity%20causes%20mechanical%20compression%20of,and%20reduces%20respiratory%20muscle%20strength. Acesso em 18/11/2022. 8. Mohammed SE, Patimah I, Khaza’ai I et al. Obesity and inflammation: the linking mechanism and the complications. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5507106/#:~:text=The%20excess%20of%20macronutrients%20in,inflammatory%20state%20and%20oxidative%20stress. Acesso em 18/11/2022. 9. Obesity Action Coalition. Bariatric Surgery and Devices. Disponível em: https://www.obesityaction.org/obesity-treatments/what-is-obesity-treatment/bariatric-surgery-and-devices/#:~:text=Bariatric%20devices%20are%20a%20safe,%2C%20AspireAssistTM%2C%20and%20Plenity%C2%AE. Acesso em 18/11/2022. 10. Prado WL, Lofrano MC, Oyama LM et al. Obesidade e Adipocinas Inflamatórias: Implicações Práticas para a Prescrição de Exercício. Abril de 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/8Nydb6F3BjyRRsqDDMdm7pD/?lang=pt&format=pdf. Acesso em 18/11/2022. 11. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Abdominoplastia. Disponível em: http://www2.cirurgiaplastica.org.br/cirurgias-e-procedimentos/contorno-corporal/abdomen/. Acesso em 24/11/2022. 12. Núcleo de Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Protocolos de encaminhamento para Cirurgia Plástica. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/documentos/protocolos_resumos/ptrs_CirurgiaPlastica.pdf. Acesso em 26/01/2023. 13. VRANJAC A. Infecções em cirurgia plástica. Disponível em: https://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/infeccao-hospitalar/doc/ih_plastica05.pdf. Acesso em 17/02/2023. 14. LEAL CR, Mascarenhas ACF, Freitas BMM de, Rangel FK dos S, Jesus LS de, Ferreira PA, et al. Principais complicações clínicas em pacientes submetidos à abdominoplastia pós-bariátrica. BJHR. 2022 May 1;5(3):8074–84.

BR22OB00185 – fev./2023

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